Em 1960, Itajubá, com uma população em torno de 30 mil habitantes, possuía apenas um hospital, a Santa Casa de Misericórdia, fundada em 1894.

​Em julho daquele ano chegou à cidade o jovem médico Rosemburgo Romano, formado na primeira turma da Faculdade de Medicina de Uberaba, que, unindo-se a outros médicos, fomentou a ideia da criação de um novo hospital.

Para pôr em prática a ambiciosa aspiração, em 1963, foi criada uma sociedade anônima denominada Hospital Itajubá Sociedade Anônima (HISA), cujo primeiro contrato social foi elaborado pelo Sr. Alberto Pereira Filho, como Sociedade em organização, tendo inicialmente como membros oito médicos da cidade, que eram, em ordem alfabética.

  • Dr. Adílio Guimarães Dias
  • Dr. Basílio Pinto Filho
  • Dr. Erasmo Cardoso
  • Dr. Joaquim Lima Coelho
  • Dr. José Pinelli
  • Dr. José Sebastião Rezende Monti
  • Dr. Orlando Sanches 
  • Dr. Rosemburgo Romano

Dr. Adílio quis ceder seu casarão, hoje pertencente à receita estadual no bairro da Boa Vista, mas, o antigo imóvel, apesar de grande e imponente, seria pequeno para o que se pretendia, assim, foram criadas ações para serem vendidas à população, o que geraria os dividendos para a construção do futuro hospital.

Os primeiros impressos relativos às ações do HISA foram feitos sob a forma de crediário pelo Sr. Geraldo Teófilo de Oliveira, pai da Dra. Daisy Mara de Oliveira Valério, anestesista, tendo financiado, portanto, a verba inicial do futuro hospital.

Os papéis das ações começaram a ser vendidos, com grande aceitação pela população de Itajubá e das cidades vizinhas, que entenderam a importância do empreendimento para toda a região, arrecadando dinheiro suficiente para a construção do hospital.

As plantas do hospital foram feitas pelo Eng. Joaquim Nogueira da Gama, engenheiro do DER, Cel. Miranda, engenheiro do Exército Brasileiro, com o auxílio de outros, como Dr. José Ernesto Coelho, que trouxe fotografias de um moderno hospital dos Estados Unidos que acabou influenciando a planta definitiva.

Ainda no ano de 1963, foi adquirida uma área de propriedade da Sra. Cândida Gonçalves Bustamante e de seu marido, Sr. José Gomes Bustamante, em um morro, no local denominado Chácara das Moças, atualmente Morro Chic. 

O casal e seus filhos José, Antonio e Tereza Bustamante prestaram grande colaboração ao projeto, posto que o valor que a sociedade anônima não tinha para pagar foi financiado a longo prazo, tendo sido completado o pagamento muitos anos depois. 

O espírito nobre da família Bustamante jamais cobrou a instituição, deixando-a livre para pagar como e quando pudesse. Mais tarde seriam adquiridas mais duas outras áreas acima e ao lado do hospital.

As obras do hospital tiveram início em 31 de dezembro de 1963, estando presentes, entre outros, o padre Agostinho Picardi, pároco da cidade, Dr. Rosemburgo Romano, Dr. Orlando Sanches, Sr. Antonio Rieira, Sr. Sebastião Inocêncio Pereira, redator do jornal O Sul de Minas.

Só em 4 de maio de 1965, entretanto, com as obras já em andamento e contando já com mais de mil associados, é que foi lavrada uma Escritura Pública de Constituição da Sociedade Anônima Hospital Itajubá, na qual constava um prédio em construção em terreno de 4.400m². Até então nada estava oficializado . 

Neste ato estiveram presentes o Dr. Jerson Dias, Dr. Ítalo Mandolesi Filho, Dr. Joaquim Lima Coelho, Dr. Orlando Sanches, Dr. Rosemburgo Romano, Dr. Erasmo Cardoso, Dr. José Lourenço de Oliveira, Dr. Basílio Pinto Filho, Sr. Walter Mohallem, Sr. João Aldano da Silva, Sr. Roberto Benedito Andrade Carneiro, Sr.João Pinto Ribeiro, Sr. João Mauro de Morais e Sr. Antonio Martins Riêra.

As ações continuaram a ser vendidas, havendo grande colaboração na divulgação, na venda e na aquisição, por parte de médicos, outros profissionais e grande parcela da população, não apenas de Itajubá, mas também de cidades vizinhas como Pedralva, Carmo de Minas, São José do Alegre (aqui se destacam o apoio do Sr. Geraldo Daniel de Carvalho, Sr. Benedito Mendonça e Sr. José de Campos), Santa Rita do Sapucaí (sob a liderança do Dr. Elias Kallás), Piranguinho, Brasópolis, Paraisópolis, Conceição dos Ouros entre outros municípios, que compreenderam a importância do projeto para a região.

Rosemburgo Romano buscou apoio em São Paulo com o Sr. Laudo Natel, que se prontificou a ajudar, concedendo empréstimo através do Bradesco, banco do qual ele era acionista e fazendo apresentações a empresas de São Paulo que poderiam fornecer material hospitalar.

Em 1966 as obras do hospital estavam praticamente concluídas e a aparelhagem começou a ser adquirida gradativamente. A empresa White Martins também concedeu crédito especial através do Sr. Pinheiro que era seu representante na região e do Sr. Félix Bulhões, diretor proprietário da empresa.

Além do hospital, Rosemburgo pensou na construção de uma Faculdade de Medicina. Muitos médicos de São Paulo tornaram-se amigos e apoiaram a ideia da interiorização da medicina incentivando-a, como o Dr. Dante Pazzanese, Dr. Adib Jatene, entre outros.

Foi feita grande divulgação da Escola pelos meios de comunicação, contando com a inestimável ajuda do jornalista Sebastião Inocêncio Pereira, redator e diretor do jornal “O Sul de Minas”. A divulgação atingiu os meios de comunicação não só de Minas, mas, também de São Paulo, do Rio de Janeiro e de outros estados, chamando a atenção para novo vestibular que em breve seria realizado.

Para a criação de uma Faculdade isolada era necessário também, por normas governamentais, que ela estivesse ligada a um órgão público, uma fundação, uma sociedade ou associação.

Foi constituída então uma comissão integrada pelos senhores Dr. Basílio Pinto Filho, Dr. Sebastião Rezende Monti, Sr. Sebastião Osvaldo da Silva e o farmacêutico Expedito Magalhães Ribeiro que, em abril de 1967, procuraram pela Fundação Theodomiro Santiago ligada à Faculdade de Engenharia, na pessoa de seu Presidente Pedro Mendes dos Santos a quem foi feito o apelo da incorporação da Faculdade de Medicina de Itajubá por essa Fundação.

Havia ainda memoriais assinados por diretoras de treze escolas de 2º grau, pela Diretoria do Lions, por médicos, odontologistas e vários outros, em um grande movimento liderado por Rosemburgo Romano, conforme consta em ata.

Assim, em 23 de abril de 1967, a Fundação Theodomiro Santiago torna-se Mantenedora da Faculdade de Medicina de Itajubá, considerando que o patrocínio da criação da Faculdade de Medicina de Itajubá representaria inestimável serviço prestado ao Estado de Minas e ao país no campo do ensino de nível superior. 

Ficou designado o nome do Dr. Rosemburgo Romano como diretor da Faculdade na ata dessa reunião. Em 1970 a Fundação Theodomiro Santiago deixaria de ser mantenedora e seria criada a Fundação Universidade Regional de Itajubá (FURI), em 27 de agosto de 1970, pelo diretor Dr. Rosemburgo Romano, passando a ser a nova mantenedora. 

Em 1972 foi extinta a FURI e criada a Associação de Integração Social de Itajubá (AISI), como nova mantenedora da Faculdade, na gestão do Dr. Ítalo Mandolesi Filho como diretor, tendo como administrador o Sr. João Aldano da Silva, que organizou toda a parte administrativa da instituição. 

A Associação de Integração Social de Itajubá (AISI) tornou-se entidade de utilidade pública pela lei No 6.734 de onze de dezembro de 1975, assinada pelo então governador Dr. Aureliano Chaves de Mendonça. A AISI permaneceu como mantenedora da faculdade de medicina até 2018, ano de sua venda, mas mantém-se até hoje como mantenedora do hospital.

O Conselho Federal de Educação, em 1o de abril de 1968, autorizou o funcionamento da Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIt), sendo esta a data oficial de sua criação.

Foi convocado o primeiro vestibular, oferecendo 60 vagas, sendo que o MEC autorizou, ainda na primeira turma, o aumento para 72 vagas.A partir da segunda turma o número de vagas passaria a 100.

A Faculdade começou a funcionar no prédio do Hospital das Clínicas, onde as aulas eram ministradas. Assim nascia a quinta Faculdade de Minas Gerais. O hospital mais tarde receberia o nome de Hospital Escola da FMIt.

​Para ocorrer essa transformação, tornando-se ele propriedade da Faculdade, seria necessária a doação das ações do Hospital Itajubá S.A. que haviam sido adquiridas pela população, logo no início da criação da Escola. Foi então deflagrado movimento nesse sentido, do qual participaram médicos e acadêmicos, merecendo destaque o nome de Michel Julien Jr., presidente do diretório, que ia diariamente à TV Itajubá, de propriedade do Sr. Nagib Mohallem, pedir as doações.

Mais uma vez, a população de Itajubá, e das cidades vizinhas, demonstraram seu espírito altruísta – a quase totalidade das ações do Hospital Itajubá S. A. foi doada à Instituição.

​​O prédio da Faculdade foi inaugurado em 1970 e todo o bairro à sua volta acabou sendo denominado “Medicina”.

Em 2018, devido às graves dificuldades financeiras, a AISI realizou a venda de parte da participação da FMIt. Em 2023 passou a deter 25% da participação nos dividendos da faculdade. Neste mesmo ano o Hospital Escola passou por reestruturação visual e de marketing e passou a se chamar de Hospital de Clínicas de Itajubá.

Antes um hospital geral voltado às áreas clínicas básicas, o HCI passou gradativamente por grandes melhorias e ampliação das especialidades ofertadas. 

Hoje realiza cirurgias cardíacas, transplantes, tratamentos oncológicos, hemodiálise, cirurgias de média e alta complexidade, atendimentos ambulatoriais, possui maternidade de alto risco e 40 leitos de UTI, além de ser o único Pronto-Socorro de porta aberta da microrregião e estar inserido na Rede de Urgência e Emergência do SUS de toda a Macro Sul e Extremo Sul de MG. 

O HCI continua sua característica de instituição de ensino, servindo como campo de treinamento de graduandos de medicina e enfermagem, além de oferecer residência médica em 13 especialidades e residência multiprofissional da saúde para enfermeiros, nutricionistas e psicólogos. Por fim, possui a revista científica HSJ (antes chamada Revista Ciências em Saúde), periódico online desde 2011.

O Hospital de Clínicas hoje é referência em toda a região com quase trezentos mil  atendimentos/ano entre ambulatoriais, eletivos e urgências e emergências.

O sonho há muito tornou-se realidade e a população, que tão solidariamente somou esforços contribuindo com ele, é hoje, em última análise, a maior beneficiária de sua concretização.

Texto gentilmente cedido pelo Prof. Dr. Lybio José Martire Júnior ( https://www.sbhmhistoriadamedicina.com/copia-faculdade-de-medicina-de-ribe) e adaptado pelo Dr Seleno Glauber.